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Piora fiscal e descontrole do coronavírus podem empurrar economia brasileira para depressão

14 julho, 2020

Já é dado como certo, nas projeções dos analistas, que a recessão enfrentada pelo Brasil em 2020 será a pior dos últimos 120 anos – pelo menos. Mas esse quadro pode se agravar mais. Uma eventual sinalização de que as contas públicas vão piorar de forma consistente, aliada à dificuldade do país em promover a reabertura segura da economia, sem controlar o coronavírus, têm força para levar a atividade econômica para um cenário de depressão.

Por ora, a depressão econômica não está no cenário base de boa parte dos economistas – os dados até mostram que o fundo do poço já ficou para trás, apesar do cenário de grande incerteza. Mas um quadro de mais gravidade para a economia brasileira segue no radar de parte de bancos e consultorias.

Entenda a diferença

A depressão econômica é caracterizada pela forte queda do Produto Interno Bruto (PIB) sem que haja uma retomada consistente nos anos seguintes.

Em cenários de recessão, depois da retração da atividade, a economia consegue se recuperar com mais facilidade, ainda que de forma gradual.

Com a crise provocada pelo coronavírus, o governo teve de ampliar fortemente os gastos públicos para mitigar os efeitos da pandemia no orçamento de empresas e famílias. Superada a crise sanitária, a piora das contas públicas terá de ser revertida, segundo analistas, para que o país não entre numa depressão.

A crise fiscal brasileira se agravou em 2014 e, desde então, o Brasil acumula déficits primários e tem buscado realizar um ajuste fiscal. O resultado é que o Brasil se tornou uma país de elevado endividamento para uma economia ainda emergente, o que sempre provocou a desconfiança dos investidores.

Nos últimos anos, o país conseguiu aprovar algumas medidas que ajudam no controle das despesas, como teto dos gastos e a reforma da Previdência. Mas os gastos realizados pelo governo para mitigar os efeitos da pandemia vão elevar o endividamento do país – a dívida bruta do Brasil deve chegar a 98,2% do PIB no final de 2020.

“A nossa maior preocupação é se o Brasil começar a brincar com o fiscal. E como seria isso? Se o país flexibilizar o teto de gastos, o que se traduziria em aumento mais expressivo da dívida”, diz a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.

No cenário-base da Tendências, o país deve colher uma recessão de 7,3% neste ano e um crescimento de 3,4% em 2021 e 2,1% em 2022.

O cenário pessimista da consultoria, no entanto, que prevê um quadro de depressão, tem uma probabilidade de 40% de se materializar. Nesse cenário, o país abandonará o ajuste fiscal, o teto de gasto será revisto, e o PIB vai despencar 10% neste ano, com um crescimento de apenas 2,5% em 2021 e 1,8% em 2022.

“É um quadro em que a economia cai e praticamente fica lá, volta muito pouco. Aí, é um cenário de depressão”, diz Alessandra.

Para dar conta de resolver a parte fiscal, o governo vai precisar de apoio político no Congresso para conseguir aprovar matérias importantes como, por exemplo, a PEC Emergencial e a reforma administrativa – duas medidas que podem ajudar na continuidade do ajuste das contas. “Sem o fiscal em ordem, no sentido de adotar regras mais duras, o país vai postergar esse cenário de atividade economia muito deprimida”, diz Alessandra.

Uma piora fiscal prolongada pode criar um ambiente de insegurança entre os investidores, o que tende a provocar uma fuga de capitais do Brasil. O país pode ser obrigado a subir a taxa básica de juros – hoje em 2,25% ao ano – para conter a saída de recursos estrangeiros, o que vai encarecer o custo do crédito para empresas e consumidores e, consequentemente, emperrar a recuperação econômica.

Segunda onda

O outro risco de o Brasil flertar com a depressão econômica é com uma eventual segunda onda do coronavírus, o que pode levar a um novo fechamento das economias para impor as medidas de isolamento social, consideradas fundamentais para o controle da doença.

Por ora, as projeções para a atividade econômica não contemplam uma segunda onda da doença. Se ela ocorrer, as expectativas para a economia podem se tornar ainda piores.

“Tem um risco que a gente discute bastante, de uma segunda onda”, afirma o economista-chefe do BNP Paribas, Gustavo Arruda. “Com as economias reabrindo, as pessoas começam a relaxar, a usar menos máscara, e daqui a três meses, quando inverno voltar na Europa, a gente começa a ver uma escalada de casos, e a economia global tem de fechar de novo.”

Uma eventual segunda onda, segundo o BNP, pode levar o PIB brasileiro a despencar 10% – a previsão atual é de uma queda de 7%.

Nesse cenário mais pessimista do BNP, haveria uma piora da atividade econômica no fim deste ano, o que também inviabilizaria uma retomada futura. Dessa forma, em 2021 haveria um novo ano de recessão, com queda de 2% do PIB. “Isso dá para gente chamar de depressão”, diz Arruda.

Brasil com dificuldade e fragilizado

O Brasil foi atingido pela crise provocada pelo coronavírus com uma economia já bastante fragilizada e também dá sinais de que enfrenta dificuldade para vencer a pandemia.

Depois de encerrada a recessão de 2016, a economia brasileira apresentou taxa de expansão média anualizada de apenas 1,7% entre janeiro de 2017 e dezembro de 2019, de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getúlio Vargas.

Foi, segundo o órgão, o ritmo mais baixo de expansão da economia brasileira depois de um período recessivo. Antes disso, o pior ciclo de crescimento pós-recessão foi registrado entre o quatro trimestre de 2015 e o quarto trimestre de 2017, quanto a taxa média do PIB foi de alta de alta de 3,5%.

“O Brasil já estava com um desempenho pífio”, afirma o professor do Insper e integrante do Codace, Marco Bonomo. Em junho, o Codace avaliou a economia brasileira como estando em recessão.

Para além de retomar a atividade, segundo Bonomo, o Brasil precisa transmitir uma confiança de que a doença está controlada para que seja possível reabrir a economia. O país já registra mais de 66 mil óbitos.

“Eu acho que a gente que vai demorar mais para sair da recessão do que poderia”, afirma Bonomo. “Isso se dará, em primeiro lugar, pela gestão de gestão da saúde. Sem a saúde estar resolvida, você não consegue resolver a atividade econômica.”

Fonte: G1/Classe Contábil

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